quinta-feira, 24 de setembro de 2009



Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos ,um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoraçao ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia. 
(Trecho de O Divã)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009



Eu, hoje, ando atrás de algo impressionante
que me mate de susto
um discurso, um romance
que é pra me desviar desse mar de calmante...


 Adriana Calcanhoto
 Enguiço

MIRAGEM




O que vejo ao longe?
É meu desejo ou apenas mais uma imagem?
Mas o que importa?
Antes não estava vendo nada...
Via apenas coisas turvas e descoloridas.
Essa vertigem me conecta,
Junta minhas partes.
De volta ao meu mundo,
Antes, distante e me via ali,
como um brinquedo sem criança.
É pouco, eu sei,
Mas o que é pouco,
Pra quem perdeu seus tesouros
E agora tem que juntá-los novamente?
Apenas um receio me cerca:
O de estar novamente suspensa
sem ter esse colorido sob meus pés
e esse brilho ante meus olhos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

COMBUSTÍVEL




O óleo do motor vazou ou
O combustível secou?
Ou será que foi assalto?
Tenho que achar um posto
Onde possa reabastecer!
Recuperar a potência
Desse carro que tanto amo.
Deslizar suavemente, novamente
Com a paixão que sempre tive,
Nas curvas mais lindas.
Quero me vestir, me render,
Para de novo voltar a ser feliz.
Fazer o que sempre amei.
Ter de volta o brilho nos olhos ao ver a pista.
Sentir de novo o que fluía dentro de mim,
Como um vulcão de luzes coloridas.
Quero ter de novo
A emoção que atiça e enfeitiça.
Viver e ser o que sempre fui.
Recuperar o que move esse meu veículo encantado.
MEU CORAÇÃO.

NEGAÇÃO




Caminhar é inevitável,
Seguir é uma consequência,
Errar e acertar, uma constante.
Amar é uma arte
Que poucos dominam.
Negarei de agora por diante
Tudo que for fumaça e cinza!
Vulto camuflado!
Pra mim agora será somente,
O real e quente.
Será BRASA e FOGO.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009


 


Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto {…} De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo…Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter…”

Fernando Pessoa

domingo, 6 de setembro de 2009

ME DÊ A CORAGEM

 

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
meu PECADO DE PENSAR.


Clarice Lispector

LAGARTO






Já vi muitos, de todos os tipos.
Mutantes tão comuns, tão vazios...
Tenho nojo de lagartos!!!
Mas eles insistem em se aproximar de mim.

FRAGMENTOS



Emaranhado de pontas soltas,
Fragmentos de tudo...
Suspeitas em toda parte.
Uma vida de ilusão do que se achou ser e ter.
O fio não existe,
O sagrado não existe.
Frágil e submersa.
Descrente pela razão e coração crente.
Sente?
O sagrado sem destino, sem lógica... sem porto...
Aguardar o aguardado...
A espera da graça que é a maior,
A verdadeira certeza...
O retorno!


Não me interessa saber o que fazes para ganhar a vida. Quero saber o que desejas ardentemente, se ousas sonhar em atender aquilo pelo qual o teu coração anseia. Não me interessa saber a tua idade. Quero saber se arriscarás parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo. Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a tua lua. Quero saber se tocaste o âmago da tua dor, se as traições da vida te abriram ou se te tornaste murcho e fechado por medo de mais dor! Quero saber se podes suportar a dor, minha ou tua; sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la. Quero saber se podes aceitar alegria, minha ou tua, se podes dançar com abandono e deixar que o êxtase te domine até às pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem nos dizeres para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos. Não me interessa se a história que contas é verdade. Quero saber se consegues desapontar outra pessoa para ser autêntico contigo mesmo, se podes suportar a acusação de traição e não traíres a tua alma.
Quero saber se podes ver beleza mesmo que ela não seja bonita todos os dias, e se podes buscar a origem da tua vida na presença de Deus, quero saber se podes viver com o fracasso, teu e meu e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: Posso! Não me interessa onde moras ou quanto dinheiro tens. Quero saber se podes levantar-te após uma noite de sofrimento e desespero, cansado, ferido até aos ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos. Não me interessa saber quem és e como vieste parar aqui. Quero saber se ficarás comigo no meio do incêndio e não te acovardarás. Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem estudaste. Quero saber o que te sustenta a partir de dentro, quando tudo o mais se desmorona. Quero saber se consegues ficar sozinho contigo mesmo e se, realmente, gostas da companhia que tens nos momentos vazios.


(Paixão pelo possível) Jean Houston

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

IDENTIDADE

 

O oculto e o visível.
Opostos que nos formam sempre.
Dores que constroem,
Amores que destroem, e vice-versa.
Só saberemos quem somos,
Bons ou maus, fortes ou fracos.
No final da jornada.
Após provar todas as dores e alegrias,
Sabores e dissabores...
Ver o que resistiu...
O que prevaleceu, sobreviveu em seu coração.
O que foi mais forte?
Mais indispensável?
E mais claramente dizendo...
O árido ou o fértil?
Este é você!

EU ADORO VOAR


Já escondi um amor com medo de perdê-lo.
Já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo.
Já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida.
Já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono.
Já fui dormir tão feliz ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos.
Já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram.
Já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou.
Já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois.
Já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza.
Já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena.
Já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar.
Já calei quando deveria gritar muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros...
Já fingi ser o que não sou para agradar uns.
Já fingi ser o que não sou para desagradar outros...
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade.
Já tive medo do escuro, hoje no escuro me acho, me agacho, fico ali.
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer.
Já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo,
mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de amigo e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas,
das drogas mais poderosas das idéias mais insanas,
dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
E daí... EU ADORO VOAR!!!

Clarice Lispector



 

“Não caminhe atrás de mim;
eu posso não liderar.
Não caminhe na minha frente;
eu posso não seguir.
Simplesmente caminhe a meu lado e seja meu amigo.”


Albert Camus

SILÊNCIO ABSOLUTO


Ante a um mundo em movimento
Escuto somente o nada.
Alucinante, corrosivo, deprimente.
Vazio de tons e sons,
Vazio de imagens e cenas,
Vazio de amores e cores,
Mas cheio de dores!
Vazio que atiça e corrói.
A expectativa de um silêncio falante
Eterno companheiro da solidão.
Ansiando ouvir o mais sublimes dos sons:
O silêncio absoluto.
Dor maior de escutar apenas
O eco da suplica lançada.
E o universo mudo e paralisado.
Distante, como que magoado.
Impedindo e negando
O contato primordial para manter-se vivo.